sábado, 21 de agosto de 2010

Tributo do Poemaparagentedesconhecida ao Centenário de Noel de Medeiros Rosa.


Noel Rosa

Noel de Medeiros Rosa nasceu nos recantos onde o samba gorjeava um lirismo profundo, sua musica tornou-se um elo forte e consistente entre o morro e as sonoridades do asfalto, sua personalidade transcendeu estigmas, rótulos ou quaisquer definição a respeito do homem nascido no terreiro de Vila Isabel.
O samba surgido dos cânticos negros, ferramenta de resistência em território inóspito onde a africanidade ressurge em cada batuque, em cada sincopado, em cada pernada carioca, em cada surdo, é agora reinterpretado pelas mãos audaciosas e pelo rosto de alguém com a mandíbula afundada nas composições rodeadas de maestria, seja nos versos ou nas melodias concebidas no parto regado a noitadas e cantos boêmios.
Muitos escolhem o samba, mas poucos são escolhidos, a classe media de Noel não foi empecilho para que ele próprio vestisse os ardonos que tanto lhe caíram bem, a aura de sambista nato foi à responsável pela criação segura de palavras imortalizadas, o tempo conseguiu cristalizar na memória a personificação de alguém que soube extrair do violão, do bandolim, das cordas vocais um encantamento profundo e sagaz.
A entrada na Faculdade de Medicina e sua inconclusa finalização deram prova de como um chamado invisível torna-se uma reviravolta presencial, a presença nos botequins revestida de inspirações cotidianas e urbanas impregna-se no imaginário de Noel, ele á sua maneira canta as mazelas, as tragédias e, sobretudo a atuação de gente simples e oriunda do Salgueiro, Mangueira e tantos outros redutos periféricos.
Falar de Noel é abrir um leque de variedades, a vastidão dos seus incansáveis temas passeia desde a influência do Positivismo até as brigas musicais com Wilson Batista, a malandragem assumiu em Noel outra característica, não o da personificação visual, mas sim o simples modo de encarar a vida com seus obstáculos e tentáculos que dilaceram as camadas pobres do seu Rio de Janeiro.
A busca pela próxima empreitada musical vinha da analise dos pequenos e dos grandes acontecimentos vistos através de suas lentes, na mente de Noel um episodio comum transformava-se em uma declaração pessoal, isso fica exemplificado quando sua mãe esconde suas roupas sem a mínima possibilidade de ir ao baile, nascia assim à composição ‘’Com que Roupa’’ e ao mesmo tempo ele _Noel_ colocava em pratica o exercício de modificação das coisas mais singelas em perolas requintadas.
A tuberculose insinuou seus últimos suspiros, mesmo a prescrição medica que o sugeria um clima mais propicio á sua condição doentia, nem as recomendações que decretavam o fim do uso de cigarros, bebidas e samba, nada disso importava ao universo de Noel Rosa, pois seu pior sofrimento era o impedimento de circulação onde ele mais se sentia bem, não sentar a beira da mesa e observar atentamente as cabrochas é como tirar o coração de um homem que vislumbrava a apoteose das desgraças num mesmo lugar.
Como se não bastasse à fornalha de invenções musicais, Noel vendeu inúmeras letras a quem a voz conhecida do radio assumia a paternidade esquecendo-se do principal criador, gente como Mário Reis e Francisco Alves tornaram-se porta-vozes dos ares corrompidos de estrofes perambulantes nos caminhos de navalhas, chapéus panamá e lenço branco.
Havemos de lembrar-se do pessoal do Estácio, do Mano Edgar, Bide, Marçal, Brancura, da Portela de Paulo Benjamim de Oliveira, de Ventura, Alvaiade, Francisco Santana, do Salgueiro de Noel rosa de Oliveira, Geraldo Babão, Anescar, Antenor Gargalhada, do Império Serrano de Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola, Mestre Fuleiro, Molequinho, e havemos de lembrar-se do Noel Rosa, centenário e figura permanente nas rodas de conversa onde a prosa que circula de boca em boca retrata o passado de um homem que não conseguia ser egoísta, e dividia sem miséria a sua voz eloqüente.
Noel rosa das Lindauras, das Cecis, das mulheres faceiras com seus vestidos endiabrados, da fita amarela que ainda tem o mesmo balanço nas cadeiras, do feitiço da vila arrastando multidões sob a tutela do ritmo negro. Noel dos gagos apaixonados, do feitio de oração tecido no murmúrio solene, do ultimo desejo, porem, o samba não acaba quando o compositor termina o derradeiro fraseado, o samba termina somente quando o ultimo ser vivente esqueça definitivamente que um dia certo Noel esteve de passagem nessas redondezas e fez do seu amanha um samba coroado de experiências humanas e ricas.


Alessandro Eliziário Dornelos (Eu mesmo)
22/08/2010




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